sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

MENINO, HOMEM, DEUS



Vi esta imagem no boletim de Antena2, e me encantou logo a doçura daquela mãe pelo menino, não sei se é o menino Jesus, mas parto da hipótese que é. Este mês de Janeiro pode ser o mês da contemplação do menino, educado no ambiente de fé. De facto, grande parte do que somos é construída na infância. Para mim o grande segredo de Jesus, da sua humanidade ao ponto de ser divino foi como viveu a sua infância, e só teve a sua vida chamada pública aos trinta anos. Quanto a mim esse tempo foi uma busca constante de Deus. Se realmente ele era apenas Homem como nós.
“Com 33 anos, "Jesus Cristo era um homem como outro homem". Com "os traços físicos de um judeu, de olhos cinzentos e cabelos pretos e não loiro de olhos azuis", afirma o teólogo Joaquim Carreira das Neves. Os erros de representação da figura de Cristo são, na sua opinião, habituais porque "a Igreja se serviu dos seus pintores para o representarem à maneira ocidental, anglo-saxónica".
Pelo facto de não haver fotografias de Cristo, "não se sabe se era bonito ou feio", lembra Carreira das Neves. "A Bíblia não descreve fisicamente os seus heróis, mas sabemos que, por volta dos 30 anos, Jesus era um homem cheio de saúde", diz. No entanto, para adivinhar os seus traços físicos, "basta pensar num judeu e num árabe, porque entre um e outro encontram-se os traços que terá tido".

Uma questão que eu não tenho clara e que gostava de vos colocar, é:
- Se Jesus era Deus e veio fazer nosso caminho como nós? Ou,
- Se Jesus é um Homem como nós e chegou a ser Deus?
Nota: Se que nas escrituras diz que o verbo era Deus e estava com Deus e S. João pega por ai. Mas também está escrito que nós já estávamos na palma de Deus.

Um feliz ano novo

9 comentários:

Anônimo disse...

A Virtude Que Eu Mais Gosto

Ao chegar a esta altura do ano manda a tradição que se deseje um bom ano novo cheio de prosperidades. Não me eximo a fazê-lo. Esses são os meus votos para todos os que têm partilhado de alguma forma este espaço de reflexão. Espero sinceramente que a cada um na sua vida privada, o ano que chegou, traga a prosperidade e o amor que almejam para vós e para as vidas daqueles que vos são próximos.

Porém já acredito muito menos que o ano de 2008 e os que se avizinham sejam realmente anos prósperos para o mundo. Os acontecimentos internacionais graves deste fim de 2007 irão com certeza ainda fazer muitas ondas durante os próximos tempos. A desestabilização do Paquistão, um dos países possuidores de armamento nuclear, que se insere numa zona já de si altamente instável e tão problemática, representa não só mais uma grande dor de cabeça para a comunidade internacional mas dá-nos conta do facto que ainda não batemos no fundo, que ainda não atingimos aquela situação a partir da qual tudo só pode é melhorar. E enquanto isto não acontece quer dizer que ainda continuaremos a mergulhar no abismo.

Mais concretamente alerta-nos para várias coisas. Que a guerra contra o terrorismo está longe de estar ganha, que a instabilidade que esta situação acarreta no médio oriente irá continuar a catapultar os preços do petróleo e a acentuar a crise energética mundial. Esta por sua vez criará contenção das economias acentuando fenómenos como o do desemprego que por sua vez cava ainda mais o fosso das desigualdades entre ricos e pobres aumentando as tensões sociais internas e externas. Neste cenário de crise económica também é previsível que as acções necessárias para combater o aquecimento global fiquem para 2º plano, logo iremos continuar a assistir à sucessão de catástrofes naturais causadas por um clima cada vez mais instável. E já nos daremos por felizes se o vírus H5N1 numa imprevisível mutação não despoletar uma mortal pandemia de gripe. Talvez não por acaso, no mesmo Paquistão foi registado o primeiro caso confirmado de gripe aviária por transmissão homem a homem.

Neste mundo globalizado mas longe do ideal da terra prometida e ainda assim o único que possuímos para habitar que pode o homem comum, que afinal somos todos nós, fazer?
Penso que é nestas alturas que compete ao cristão fazer o exercício da sua esperança.

Não, meus amigos, isto não é mistificar a questão. Nós precisamos de viver a Verdade para termos mais verdade, a Liberdade para sermos mais livres,e temos de viver a Esperança para termos mais esperança e mais confiança na vida.

Sem esperança nada se faz. A esperança é, de forma imediata, a esperança a respeito de si mesmo, a esperança no próprio destino, a esperança no próprio fim. E não existe no mundo, não existe; esta esperança existe somente no espaço de encontro entre Deus e o Homem.

Charles Péguy, um poeta francês, crente, escreveu um poema chamado "O Pórtico do Mistério da Segunda Virtude". Nele ele compara as 3 virtudes teologais - Fé, Esperança e Caridade - a três irmãs. Duas são maiores - a Fé e a Caridade - e uma ainda é uma criança - a Esperança. Quando as vemos a caminhar de mãos dadas, a pequenina Esperança ao meio, parece-nos que são as mais velhas que levam e cuidam da mais nova. De facto é exactamente o oposto que acontece, sem a Esperança, Fé e Caridade acabariam por se perder.

Podemos constatá-lo no nosso dia. Quando chega um momento em que uma pessoa já nada espera, entra em depressão, tem dificuldade em levantar-se e em levar a cabo as suas tarefas diárias. Com frequência, retira-se de uma vida normal ou deixa-se morrer lentamente.
Mas dêem-lhe um motivo de esperança, uma possibilidade real a que se possa agarrar, um sentido de vida e o milagre acontece: tudo já lhe parece diferente apesar de nada ainda ter mudado. E isto tanto é válido para uma pessoa, como para uma comunidade, para uma nação e talvez mesmo para o mundo.

Hoje mais do que uma crise de cultura e de valores o que o mundo hoje padece é de uma falta de sentido, o sentido de todos os sentidos: o sentido último. Nunca uma sociedade foi tão poderosa nos meios mas, faltando o sentido último, estamos na situação da ponte que nunca alcança o outro lado. Sentimo-nos a baloiçar sobre o vazio. Um vazio sem fim, capaz de alimentar todas as nossas angústias e de engolir toda a esperança.

Talvez parte do problema esteja em nós crentes tal como escrevia uma certa universitária:

“Às vezes é como se ninguém reconhecesse o Senhor, porque todas as cabeças estão dobradas sobre os próprios erros e os dos outros, sobre os próprios problemas e projectos. Parece que seja insustentável a fadiga de erguer o olhar de si para aquela Presença. Assim Cristo não consegue movimentar nada de verdade em nós, não lhe damos glória. Pensa-se em Cristo e age-se em nome de Cristo, mas não se reconhece o Senhor ressuscitado, vitorioso e presente”


Talvez por tudo isto a ultima encíclica do papa Bento XVI se intitule «Spe Salvi» («Salvos na esperança») ler aqui . Nela ele fala, entre muitas outras coisas sempre centradas na ideia de esperança, em vários lugares de aprendizagem ou de exercício da esperança:

O 1º é a Oração de que já por aqui falámos a respeito de outro tópico. Diz ele:
«Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve.»
E recorda o testemunho do cardeal Nguyen Van Thuan, que durante treze anos esteve nas prisões vietnamitas, nove deles em isolamento: «numa situação de desespero aparentemente total, a escuta de Deus, o poder falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança»

O 2º é o Agir
«Toda a acção séria e recta do homem é esperança em acto.»

O 3º é o Sofrimento.
«Podemos procurar limitar o sofrimento e lutar contra ele, mas não podemos eliminá-lo.»
«Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor, que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através da união com Cristo, que sofreu com infinito amor.»
«A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. Isto vale tanto para o indivíduo como para a sociedade. Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a com-paixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo interiormente é uma sociedade cruel e desumana.»
«Sofrer com o outro, pelos outros; sofrer por amor da verdade e da justiça; sofrer por causa do amor e para se tornar uma pessoa que ama verdadeiramente: estes são elementos fundamentais de humanidade»


O 4º e último lugar de aprendizagem da esperança é o Juízo de Deus:
«Sim, existe a ressurreição da carne. Existe uma justiça. Por isso, a fé no Juízo final é, primariamente, e sobretudo esperança – aquela esperança, cuja necessidade se tornou evidente justamente nas convulsões dos últimos séculos»

No fim deixa o alerta que a esperança não é egoísta:
«a esperança em sentido cristão é sempre esperança também para os outros»
«Ninguém vive só. Ninguém peca sozinho. Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos outros: naquilo que penso, digo, faço e realizo. E, vice-versa, a minha vida entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem»


Neste Natal, mais uma vez, esse menino pobre chamado Jesus, veio cheio de dons para todos:
A Simplicidade, o Reino de Deus, que é o reino da Justiça, da Verdade, do Perdão, da Paz, da Tolerância, da Reconciliação, da Fraternidade, do Amor, da Alegria, da Alegria de Viver, do Sentido Todo e Final para a Vida.

Saibamos durante este ano guardá-los dentro de nós e alimentá-los com a nossa esperança, para assim encontrar ou manter o nosso sentido de vida. E possamos lá mais para Dezembro pôr nas nossas bocas as palavras que Charles Péguy pôs na boca Deus:

"A Virtude que eu mais gosto é a Esperança."


PS:

1) Já agora gostaria de aqui deixar as últimas palavras da encíclica «Spe Salvi» dedicadas a Maria essa grande catalisadora da esperança cristã:

"Vós permaneceis no meio dos discípulos como a sua Mãe, como Mãe da esperança. Santa Maria, Mãe de Deus, Mãe nossa, ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco. Indicai-nos o caminho para o seu reino! Estrela do mar, brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho!"


2) Ás vezes os exemplos concretos valem por muitas palavras. Por isso como exemplo de esperança vale a pena ver este aqui.

Daniel Santos disse...

PC
Antes de mais um ano muito bom, não sei porque tou com esperança neste ano, uma amiga budista diz que um ano bom por ser ano dez 2 + 8 = 10, eu não mas eles lá “sabem”.
Com relação ao teu texto tive dois sentimentos que me deixam sempre e triste, 1º saber que os ditos crentes com relação ao mundo que podiam ter outra atitude e não tem, e a 2ª é que sinto o mesmo comigo
Um abraço

Maria Lua disse...

Daniel,

obrigado pelos votos de Bom Ano.
E que seja um magnífico ano para ti também.
:-)

Anônimo disse...

Oi Andante

gostaria de te perguntar se sabes em que elementos se baseou Joaquim Carreira das Neves para dar a sua descrição de Jesus?

É que tanto quanto sei e ele próprio reconhece, não há elementos de descrição directos no novo testamento que permitam dizer qual o seu aspecto. Daí que imaginá-lo moreno com olhos castanhos e cabelos compridos é tão válido como dizer que ele era calvo, rechonchudo e sem barba ou alto, louro e de olhos azuis.

Querer fazer o retrato por aquilo que é o judeu médio é tão especulativo como dizer que um português, só porque é português, tem ser baixo, franzino e de tez morena. Ora o que por aí não falta é gente alta, entroncada, de pele alva e cabelos louros, bem como outros que são negros como um tição. Por isso acredito que ele se baseie em algo mais do que apenas na "média do padrão racial" o que quer que isso seja.

Aceito, no entanto, que muito do que é a nossa imagem estereotipada de Jesus vem da pintura antiga mas também, mais recentemente, do cinema.

Daniel Santos disse...

pc
não sei e nao tinha pensado assim,tinha dado como certo mas concordo contigo

Anônimo disse...

Olá PC!!!
Já dizia a bíblia em (1TM 4.10),se trabalhamos e lutamos é porque temos colocado nossa esperança no Deus vivo,o Salvador de todos os homens,especialmente dos que crêem.È exatamente disso, desta única esperança verdadeiramente firme,exclusivamente no Deus Vivo,que precisamos.O que temos é a certeza e claro ESPERANÇA que DEUS tem a cada começo de Ano um plano para nossas vidas,e esse plano só se concretizará e será bem sucedido se deixarmos DEUS agir.Quanto a fisionomia de Jesus desde miúda que me deparo com a imagem de Cristo com olhos azuis e barbas longas.Também já li uma vez uma poesia em que se intitulava "Deus decepção" e no qual pintaram Deus na cor negra.
È caso pra se pensar!!
Quem sabe Jesus também seja assim.
Um abraço!!

Anônimo disse...

Olá novamente PC!!
Tive a sorte em encontrar "Deus decepção na net e aí está ela.

DEUS DECEPÇÃO

Eu, cheio de preconceitos, racista!

Eu, com falsos conceitos, neo-nazista!

Eu, detestando pretos.

Eu, sem coração.

Eu, perdido num coreto Gritando: - Separação!

Eu, você, nós...

Nós todos Cheios de preconceitos,

Fugindo como se eles

Carregassem lodo.

Lodo na cor... e com petulância, arrogância

Afastando a pele irmã...mas...

Estou pensando agora

E quando chegar a minha hora???

Meu Deus, se eu morresse amanhã

De manhã???

Numa viagem esquisita

Entre nuvens feias e bonitas

Se eu chegasse lá?

E o porteiro manco

Como os aleijados que eu gozei

Viesse abrir a porta

E eu reparasse a vista torta

Igual aquela que eu critiquei

Se sua mão tateasse pelo trinco

Como as mãos do cego que eu não ajudei?

Se a porta rangesse

Chorando os choros que provoquei?

Se uma criança me tomasse a mão

Criança como aquela que não embalei?

E me levasse por um corredor florido, colorido,

Como as flores que eu jamais dei?

Se eu sentisse o chão frio

Como dos presídios que não visitei?

Se eu visse as paredes caindo

Como das creches e asilos que não ajudei?

E se a criança tirasse corpos do caminho

Corpos que não levantei

Dando desculpas que eram bêbados

Mas eram epiléticos

Que era vagabundagem

Mas era fome.

Meu Deus!

Agora me assusta pronunciar seu nome!

E se mais pra frente a criança

Cobrisse um corpo nu

Da prostituta que eu usei

Ou do moribundo que não olhei

Ou da velha que não respeitei

Ou da mãe que não amei...

Corpo de alguém exposto

Jogado por minha causa

Porque não estendi a mão

Porque no amor fiz pausa

E dei, sei lá, só dei desgosto.

E no fim do corredor

O início da decepção!

Que raiva, que desespero

Se visse o mecânico, o operário

Aquele vizinho, o maldito funcionário

E até o padeiro

Todos sorrindo não sei de que...

Ah! Sei sim, riem da minha decepção.

Deus não está vestido de ouro

Mas como???

Está num simples trono

Simples como não fui

Humilde como não sou

Deus decepção!

Deus na cor que eu não queria

Deus cara-a-cara, face-a-face

Sem aquela imponente classe

Deus simples!

Deus negro!

Deus negro!

E eu... Racista!

E agora???

Na terra só persegui os pretos

Não aluguei casa, não apertei a mão

Meu Deus você é negro, que desilusão!

Será que vai me dar uma morada?

Será que vai apertar minha mão?

Que nada!

Meu Deus você é negro, que decepção!

Não dei emprego, virei o rosto

E agora?

Será que vai me dar um canto?

Vai me cobrir com seu manto?

Ou vai virar o rosto

No embalo da bofetada que eu dei???

Deus, eu não podia imaginar

Por que você se fez assim?

Por que se fez preto?

Preto como o engraxate

Aquele que expulsei de frente de casa

Deus, pregaram você na cruz

E você me pregou uma peça

Eu me esforcei à beça

Em tantas coisas, e cheguei

Até a pensar em amor

Mas nunca, nunca pensei

Em adivinhar sua cor!


(Neimar de Barros)

Daniel Santos disse...

Olá querida Néia!!
A medida que fui lendo esse poema vinha-me a mente como resposta outro poema.A Oração de São Francisco da qual vou citar:

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.
Um beijinho!!!
Daniel

Anônimo disse...

As Faces de Jesus

Há uns anos foi publicitado nos mídia um retrato que se dizia ser a verdadeira face de Jesus. Publicado inicialmente como capa da revista Popular Mechanics a imagem terá sido realizada com a ajuda de um programa informático de análise forense que permite, partindo das dimensões da caveira, reconstruir como seria a face da pessoa em vida. Assim partindo do crânio de um judeu que terá vivido no sec. I, e fazendo alguns considerandos antropológicos sobre a estatura, o tipo de pele e cor dos cabelos, assumindo o que seria um judeu típico da época, elaboraram o que consideraram ser um provável retrato de Jesus. Uma das características desta imagem é que se afasta significativamente do estereótipo das quadros renascentistas. Imag. 1 .

É claro que por tudo o que já aqui disse no post anterior, isto vale o que vale, e que é: muito pouco. Não é pelo facto de se juntar numa mesma frase as palavras: "programa de computador" e "Jesus" que as coisas ficam mais credíveis. Mas é óbvio que o artigo, apesar de ser mais especulação que ciência, cumpriu os seus objectivos: fez publicidade ao programa, com certeza muito útil em investigação criminal, e aos seus criadores, fez vender a revista e ocupou espaço nos jornais e televisões sempre ávidos de assuntos polémicos para aumentarem os seus "shares". Por qualquer motivo, 2000 anos depois, Jesus continua polémico, qualquer que seja o assunto.

Confesso que o assunto para além do despertar de uma mera curiosidade, me diz muito pouco. Na prática ninguém é cristão porque Cristo tinha olhos azuis ou porque era um tipo bem parecido. Mais interessante e sobretudo bem mais revelador de nós próprios, seria saber o porquê da imagem que cada um guarda para si de Jesus, tal como reflecte o poema. Creio porém que o que mais me demove deste tipo de especulações é que não temos e provavelmente nunca teremos elementos suficientes para formar uma conclusão segura.

Mas então (a bem da curiosidade) o que formatou aos olhos dos primeiros retratistas da história cristã uma dada imagem de Jesus?

É preciso ter presente que os primeiros cristãos por via da sua origem judaica não tinham imagens de Jesus (Deus não se podia representar). Recorriam então a símbolos: o peixe, o cordeiro ou, sobretudo, o pastor.

Só mais tarde apareceram imagens que em muitos casos foram reflectindo o momento histórico em que foram pintadas. Por ex: as primeiras pinturas que aparecem no sec IV logo após o cristianismo se ter tornado na religião oficial do Estado romano, seguem padrões anteriormente utilizados para representar os deuses romanos: apresentam um Jesus glorioso, nada menos que um super-homem, para dizer que ninguém tinha mais poder do que ele. Numa caixa de mármore do séc. V pode-se ver Jesus a carregar a cruz sem qualquer esforço e quando pregado na cruz aparece com um rosto sem cansaço ou preocupações. Já após a Idade Média a aproximação da religião cristã ao povo sofredor leva a retratar Jesus em sofrimento, inspirando-nos ternura e compaixão. Imag 2. - Imag 3. Mais tarde no Renascimento aparecem representações mais espirituais de um Jesus ressuscitado e glorioso como na pintura de Tiziano em que Cristo evita o contacto com Maria Madalena. Imag 4.

Parece no entanto credível que os primeiros retratos de Jesus devessem mais a algumas relíquias do que à imaginação dos seus autores. Fundamentalmente à imagem impressa no famoso Santo Sudário de Turim. Não será ela realmente a imagem de Jesus?

Alguns indícios, realmente apontariam para que o pano remontasse ao tempo de Jesus e até mesmo à Palestina. Mas em 1988 as análises de carbono 14 então realizadas indicavam que o lençol é do Sec XIV. Mais tarde alguns cientistas vieram contradizer o resultado destas análises e a polémica instalou-se (mais uma). A verdade é que mesmo que inequivocamente se provasse que o sudário tem 2000 anos, ele apenas serviria para demonstrar como se faziam as crucificações ao tempo dos romanos e isso só por si não prova que aquele homem é mesmo Jesus. Imag 5.


Mas não haverá mesmo nada nos evangelhos que nos diga como era Jesus?

Há, mas são elementos indirectos sempre sujeitos à subjectividade da interpretação. Os que conheço centram-se em dois episódios:

O 1º episódio é do evangelho de S. Lucas quando o publicano Zaqueu sobe a uma árvore para ver Jesus. S. Lucas diz que ele o faz " por causa da multidão, pois era pequeno de estatura." Quem é que era pequeno de estatura, Zaqueu ou Jesus? O texto não é 100% claro. Mas mesmo assumindo S. Lucas se refere a Zaqueu como sendo baixinho, há quem diga que se Jesus fosse um calmeirão com 1,80m ou mais (como alguns o representaram) Zaqueu não teria necessidade de subir à árvore para o ver.

Foi provavelmente neste episódio de Zaqueu que se basearam os bispos do Oriente, quando na carta Sinodal de 839 afirmaram que Jesus media 1,35m. É caso para dizer que realmente estes bispos não mediam os homens aos palmos... e muito menos com fita métrica.

O 2º episódio, porventura o mais revelador, é o caso do beijo de Judas. Se Jesus, fosse um indivíduo que se distinguisse notoriamente dos demais, não teria sido necessário que Judas viesse indicá-lo aos soldados. Esta será porventura a cena que mais apoia a ideia do padre Carreira das Neves de que Jesus era "um homem como outro homem".


Mas o mais curioso disto tudo, é que muitas das discussões entre os primeiros padres da igreja sobre a figura de Jesus, têm mais a ver com o Antigo Testamento do que com o Novo e isto por causa das palavras de dois textos.

O 1º é do profeta Isaías que diz ao referir-se ao Messias prometido: «Não há formosura nele; antes o veremos sem nenhum atractivo que no-lo faça desejar.»

O 2º é do Salmo 45, onde se lê: "Tu és o mais formoso dos filhos dos homens; a graça se derramou em teus lábios; por isso Deus te bendisse para sempre".

Os que se basearam no 1º texto achavam que Jesus era feio como um calhau mal lascado. Era o caso de S. Justino que dizia que Jesus era quase disforme. Tertuliano dizia que o seu corpo quase não parecia o de um homem, tão feio era. Camodiano, apresenta-o como um escravo de figura abjecta. Mas aquele que certamente colocaria Jesus como candidato nº 1 ao programa "Extreme Makeover" é S. Irineu que afirmava que Jesus era "informus, inglorius, indecorus". Santo ou não santo eu, se fosse Jesus, teria tido uma conversinha particular com este Irineu quando ele chegasse ao céu.

Os que seguíam o 2º texto viam, é claro, Jesus como um Adónis. É o caso de Andrés, um cidadão de Creta, que em 710 afirmava que Jesus tinha «as sobrancelhas unidas, os olhos lindos, o rosto comprido, um pouco encurvado e era de boa estatura». Por seu lado o monge Epitáfio, no ano 800 em Constantinopla, afirmava: "Jesus media 1,70m de altura, tinha o cabelo louro e levemente ondulado, sobrancelhas pretas, com uma leve inclinação do pescoço, um rosto não redondo, mas comprido, como o de sua mãe, com quem se parecia em tudo». Estas são com certeza imagens tiradas das supostas cartas de Lentulus Publius de Jerusalém e Niceforus Calixtos, dirigidas ao imperador César Augusto e pertencem aos escritos apócrifos.

Há com certeza razões para que a imagem do Jesus Adónis levasse a melhor sobre o Jesus pedra lascada. A menor delas não será certamente o facto da imagem de um Deus bonito servir melhor o marketing da evangelização ao invés da imagem de um Deus «informus, inglorius, indecorus». Mas também isto não é por acaso: existe uma subjectiva noção de que um ser espiritualmente superior, deverá também ser fisicamente atraente, como se a natureza da alma conformasse o corpo que a contém. Não é coincidência que as bruxas das histórias infantis sejam mal encaradas e verrugosas e as castas princesas alvas e belas. É claro que na prática esta teoria desmorona-se rapidamente basta ver o retrato de alguns mestres espirituais e compará-los com as imagens de algumas beldades de cabeça oca de Hollywood, mas preconceitos milenares custam a morrer. É por isso que se vê por essa Internet fora muitos sites espíritas a fazerem alusão à carta de Publius para justificar as imagens bonitas de Jesus com que normalmente ilustram as suas páginas. O problema é que não há provas nem da existência da carta nem tão pouco, tanto quanto pesquisei, do próprio Publius o que também diz muito sobre a credibilidade do que se escreve por esta Internet.

Para terminar este texto que já vai longo vou lembrar aqui um diálogo do jornalista e escritor Juan Arias:

Interrogava-se Juan Arias:

"Porque que é que aquele profeta Jesus, que no seu tempo não deixava de ser mais um profeta de entre todos os que polulavam pela Palestina, até ao ponto de quase ser ignorado pelas crónicas do seu tempo, armou uma tal revolução na história, enquanto que os outros não deixaram vestígios? Já que também os outros tiveram seguidores, discípulos, doutrinas próprias e até faziam prodígios como ele.

Uma judia propôs-me um dia uma explicação. Precisamente, disse ela, porque se trata de uma personagem a respeito da qual não se sabe quase nada sobre a sua vida e sobre a sua pessoa física, nela se foi concentrando a grande utopia da história, a que se aninha no fundo de qualquer pessoa humana, qualquer que seja a sua crença religiosa. Essa utopia tecida com as aspirações mais nobres, como a da paz e do amor universais, a da libertação de todos os oprimidos da terra, a dos anseios de justiça de todos os humilhados, a que sonha com o respeito pela liberdade de consciência e com os direitos fundamentais do homem, a utopia da solidariedade universal e da luta contra a solidão que oprime e mata, a da procura da diversidade como riqueza para todos e não como confrontação racista."

De facto esse Jesus sem rosto que deixa a cada um o idealizar sua imagem, acaba também por ser o catalisador do ideal pessoal, espiritual, social e até político de cada ser humano. Nele se projectam os nossos melhores sonhos de um mundo mais humano e aberto ao mistério da vida e da morte, para o qual a humanidade continua a procurar o sentido como para o mais enigmático dos hieróglifos.

E isto apesar do seu nome ao longo da História ter servido de pretexto para tantas ambições mesquinhas e traições manifestas ou escondidas, a utopia que ele representa acaba sempre quebrando as pernas às contrafacções construídas sobre ele.