terça-feira, 30 de setembro de 2008

TENTEI ESCRICER POESIA

Foto de Agneia de Sotti

Cresci ouvindo esta grosseira expressão
Cresci ouvindo esta grosseira expressão
“Vamos fazer amor”
Há quem diga
Sou fruto dela
Dela?
Sim, do acto de fazer amor
Como se faz amor?
Se o amor é algo que nos une!
Que nos constitui
Deus não nos ama?
Antes e depois
De nos ter criado
Então vivemos imbuído nesse amor
Que nem sempre me dou conta
Que vou respondendo
Na medida que me deixo
Invadir pelo outro
Até lhe dizer:
Vamo-nos deixar fazer pelo amor.
**-**
Qual será a meta?
A vida já mais pode ser
Um desenfiar alucinante dum percurso,
De alcance
Á que parar,
Á que saborear,
Que esse sabor não morra
Antes da própria morte
Onde todos chegam
Mas nem todos com vida
Antes da grande vida
Os que chegam á morte
Com vida vivida
Essa morte não passa da morrida
**-**
Ergueram-se edifícios
Uniram-se gente
Pessoas de todos os cantos
Dos recantos do país encantado
Deixei o cheiro da terra
Húmida do orvalho
Nesta multidão
Onde mal me lembro de Deus
Sem estar só
A solidão me penetra
Deixo de ser eu para ser mais um
Meu lar naquela encosta
Que tocava nas nuvens
Passou a ser
a quinta gaiola
a contar do chão
Esse chão que deixo de sentir
Naqueles passeios pelo bosque
Que era impossível não me encontrar
Porque sentia Deus entranhado no bosque
E na buzina do carro que passa
No sinal amarelo
Na assafa das cinco e meia
No terminar dum dia
Olho para o por do sol
E não vejo
Vejo alguns raios
Que preenchem as brechas
Dos prédios de betão
E num chilrear
De um pardal
Na única arvore
Do bairro
Volto me a encontrar
Tornando consciente
Que vou-me sentido adormecido
Embalado pela assafa
Que o pardal com chilrar
Desperta-me na realidade
É mais difícil ser ateu na simplicidade
No meio da natureza
Que ser crente no meio do materialismo da cidade.
**-**
Se escuridão não existisse
Tudo era belo
Na fraternidade
Cada homem
Visse no outro
Um semelhante
Desse modo, como falava o profeta
Iavé já dizia:
“lobo e o cordeiro pastarão juntos,
e o leão comerá palha como o boi;
pó será a comida da serpente”
Redescobria
A terra mãe
Este mundo jamais tem escuridão
Onde abunda a ausência de luz
**-**
Sinto me triste
Não pela tristeza que me provoca
O mundo onde cada um não sai de si
No desmoronar lentamente
Da corrente
Que deixamos de ser
Passamos a ser elos isolados
Cada vez deixo de pensar no outro
E sofro
O verdadeiro sofrimento
Incapacidade de viver o que é eterno.
Que me sara
Me deixo de suportar o outro
Para amar
E em cada nascer do sol
Que me seca as lágrimas
E me retoma á alegria
Porque ainda vivo
**-**
A força do vento acalma a tempestade
À dias que apetece não sair de mim
Como o vento antes de chegar
E deixa para amanhã
As sementes na seara
Deixando de fecundar a terra
Assim me sinto
Como esperará pelo amanhã
Que tudo passe
Mas ao som do murmurar do vento
Me torna a sentir vivo
E antecipa o acordar
Do amanhã
**-**
Neste passar do tempo
Que só a rapidez da luz pode contar
Depois dos milhares antes dos séculos
Nos dias que correm em busca da “luz”
Não me lembro quando nasci
Tudo é imenso…
E na imensidão me encontro
O vazio é loucura
Como o pico do alfinete que sou
Como o único filho amado que me sinto
Entre a utopia da vida
Que só é concreta
Nas mãos do Criador
**-**
Em criança Tu já me fascinavas
Gostava quando o meu pai me falava de Ti
Eu era pequeno
Fui crescendo e te aprofundando
Na minha vida e na vida dos outros
Fui alicerçando o meu viver
Pela busca de ti
Sentindo a tua busca em mim
E vou te conhecendo meu Deus
na medida que me faço criança
**-**
Grande amizade te tenho
Desde o dia que nos cruzamos
Por acaso nos encontramos
Jamais nos perdemos um do outro
Esse sentimento foi tão sublime
Que tentamos ser amantes
E juntos olhamos para o nascer do dia
Com o mesmo olhar
Mesmo antes de cruzamos o olhar
E num abraço redescobrimos
Que intensidade da vida
Se descobre nas varias intensidades
Onde a nossa é amizade
Onde a intensidade nos torna
Tão intensos que vai para lá da intensidade
De não quer o outro
Mas me quero para outro
**-**
A noite cai
No erguer do dia
Na manhã
Onde tudo recomeça
No desabrochar de mim
Á plenitude de Deus
Que vai ficando no tempo
Onde nem o tempo esgota
No caminho onde
A aurora abraça o entardecer
Para o tempo deixar de correr
E deixar de ser tempo
Para penetrar no que me sustem
**-**
A morte é o mais longe…
O mais distante de mim
Porque eu sou vida
Que a morte não só me adormece
No desgaste onde o amor ainda não suporta
Mas, relança na vida onde
Acaba a sede do eterno
E se inicia uma foz permanente.
**-**
Não sou aquilo que sou
Porque também sou o que serei
Mas aquilo que fui
Foi passado a ser aquilo que sou
Já mais posso ser fragmentos de tempo
Onde Deus não se fragmenta
E me unifica na eternidade
Onde o que não sou faz parte do caminho
Do que sou
**-**
Já ouvi falar de ti
Mas não sei quem és ó Deus!
Mas sei que tenho sede de vida
E só tu me sacias
Como a criança sem saber
Procura o seio da sua mãe
E alimenta sua vida
Pois bem tu me sacias
Tu me envolves
E o conhecimento que tenho de ti
É como a lembrança do colo de minha mãe!
**-**
Se meu peito
Fosse um leito dum rio
Onde a vida não só corre, pelo tempo
Mas no tempo faz correr o que se vive
Em meu leito não corre a força da agua
Que contra o vento se levanta
No rebolar da onda
Corre o desejo de Deus
Que rebola e se entrelaça na mediocridade do meu ser
E se levanta
*-//-*
Contigo sou feliz
Porque deixo de amar para me encontrar
Mas encontro me por amor
Deixei de procurar anciosamente a felicidade
Mas ela corre em mim como o vento beija o horizonte
Meu horizonte vai para alem ti
Mas em ti que me focalizo
Não só por seres mulher
Mas és o mais próximo
Quando o grito, o exalto, a palavra, a dor e alegria
Começa a transbordar de mim
E ser cada vez mais pessoa ou apenas pessoa
**-**
Depois do beijo
Da manhã
E ao entardecer
Naquela tarde que a esperava
Era Setembro o aniversario da nossa união
Sentado num banco de jardim
Pensava a importância de um beijo
E indiferença onde todo meu ser o sente
Depois de erguer os olhos e fixa-os
Num ninho de andorinhas
Ao pensar no nascer do dia
Interroguei o que era beijar
E na brisa da tarde que me envolvia
Sentir que era
sentir na pele o coração do outro
**-**
Sinto encolhido
Uma sensação que tudo não se pode fechar em mim
E na melancolia da inércia que possuía
No meu eu que se vazia
Á medida que o ter engorda
No conforto de meu lar
Era Janeiro
Ao abrir um pouco da vidraça
Par sair o fumo da lareira onde o pinho se consumia
Voltei a ver aquele mendigo
Que passava por mim há meses
Mas ontem soube o seu nome
João, deu-me a conhecer o seu viver
E eu encolhido descubro
Que ser solidário
É esticar o nosso ser